Sobre a doutrinação de espíritos

Francisco Muniz



As reuniões mediúnicas, compreendidas do ponto de vista dos Espíritos, são um recurso terapêutico em favor das entidades em tratamento, com vistas a sua readaptação ao plano espiritual. Os médiuns são chamados a colaborar nesse processo através da doação do que tenham de melhor, a partir da boa vontade em ajudar os necessitados, ajudando-se a si mesmos. Essa contribuição se faz, primeiramente, pela transfusão fluídica que constitui o chamado “choque anímico”, quando os encarnados doam fluido animalizado e absorvem as energias deletérias que impedem o Espírito sofredor de se readaptar à realidade que lhe é própria. Em troca, este recebe o componente energético mais sutil e salutar que o fará mais maleável às orientações e esforços dos Amigos Espirituais. Deve-se compreender, portanto, que os Espíritos trazidos/levados a uma reunião mediúnica são, em sua maioria, pacientes hospitalares e como tal devem ser respeitados, merecendo, da parte dos encarnados chamados a oferecer colaboração, toda a consideração que se dispensa a um doente internado em qualquer estabelecimento de recuperação da saúde, na Terra.
Mas não é somente o “choque anímico” (“atrito” entre almas seria uma definição aceitável) que as entidades desencarnadas em tratamento vão necessitar no momento do intercâmbio mediúnico. Sabemos que durante o processo de doutrinação, ou esclarecimento, como prefere o Espírito André Luiz, podemos – nós, os médiuns especializados nessa tarefa, junto aos psicofônicos – utilizar diversos recursos para proporcionar aos comunicantes um pouco de consciência acerca de sua condição sofredora, tornando-o apto a passar à etapa seguinte, que é a mudança de postura perante a vida, para o que contam sempre com o auxílio dos Instrutores Invisíveis.
Dentre esses recursos, um dos principais é a terapia da palavra, através da qual o médium veicula energias magnéticas que, se bem conduzidas, ajudam a entidade sofredora a retirar de si, enquanto mantém a conversação, as impressões negativas que seus dramas pessoais exercem sobre seu ser, observando nesses momentos uma súbita e inexplicável melhora de seu quadro “clínico”. A palavra bem empregada imanta-se de poderosa força magnética provinda não propriamente do médium, mas dos integrantes da Equipe Espiritual condutora da reunião mediúnica. Mas o médium não é uma simples peça do processo e dele se requer muito mais que a disposição em servir. Ele precisa estar capacitado para manter a concentração e assim se fazer intérprete dos mentores, além de manifestar aptidão para compreender em que momento deverá interferir na fala ou no silêncio do comunicante e oferecer sua colaboração.
A doutrinação, como se percebe, não é um ato solitário, isto é, não é tarefa unicamente do médium esclarecedor, posto que também o psicofônico é chamado a cooperar no processo estimulando, mentalmente, o comunicante a ouvir as orientações, através da vibração resultante da concentração e do sentimento de fraternidade. Com isso assegura-se o sucesso da empreitada tanto do lado de cá quanto de lá, ainda que a Equipe Espiritual possa neutralizar possíveis deslizes e compreensíveis falhas dos encarnados, a bem do trabalho. Mas os médiuns não devem contar com a ação neutralizadora dos Amigos Espirituais e se esforçarem para desempenhar condignamente sua atividade, reconhecendo-se, como diz Francisco de Assis em sua prece, verdadeiros instrumentos da paz e da verdade junto a quem mais precisa...

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