Pela obra se conhece o autor

Francisco Muniz

(Extraído da revista Visão Espírita - n. 18 - Ano 2 - 1999.)

Questão 9 de O Livro dos Espíritos: "Onde se pode ver, na causa primária, uma inteligência suprema, superior a todas as outras?", pergunta Allan Kardec à plêiade do Espírito de Verdade, obtendo a resposta que segue: "Tendes um provérbio que diz o seguinte: pela obra se conhece o autor. Pois bem: vede a obra e procurai o autor! É o orgulho do que gera a incredulidade. O homem orgulhoso nada admite acima de si, e é por isso que se considera um espírito forte. Pobre ser, que um sopro de Deus pode abater!"
Em seguida a tal resposta, o Codificador pondera nestes termos: "Julga-se o poder de uma inteligência por suas obras. Nenhum ser humano, podendo criar o que a natureza produz, a causa primária está, portanto, uma inteligência superior à humanidade. Sejam quais forem os prodígios realizados pela inteligência humana, esta inteligência tem também uma causa, e quanto maior for o que ela realizar, maior deve ser sua causa primária. É esta inteligência superior a causa primária de todas as coisas, qualquer que seja o nome pelo qual o homem a designe".
Mesmo para o entendimento limitado dos homens, nada há que supere a criação divina, que tem nos mistérios da Natureza a própria essência da divindade, isto é: as leis naturais que regulam a constante manutenção da vida. Essas leis aos poucos vão se revelando aos homens através do estudo das ciências e também da religião, que se poderia traduzir como o conhecimento dos desígnios de Deus. Assim, aos poucos o homem vai descortinando os véus que o separam das verdades eternas e, procurando descobrir-se, descobre a potência divina em si mesmo e no que o cerca. Vendo-se criatura, compreende-se co-criador e, entendendo-se parte da grandiosa obra, reconhece que, estando no todo, o todo também está nele próprio.
Onde, porém, encontrar a fonte primeira dos princípios que animam a matéria senão no motor que impulsiona os corpos celestes, conforme a explicação do sábio francês Bulliot, citado por Léon Denis em O Grande Enigma? Nessa obra, Denis, repetindo Bulliot, indaga: "De onde vem essa força centrífuga? Unicamente de um impulso primitivo, dado, de uma vez por todas, ao planeta, na origem de suas revoluções, por uma causa estranha. Esse impulso é perfeitamente análogo ao que uma criança comunica a uma pedra, fazendo-a girar por meio de uma funda. Nenhuma força natural poderia dar a explicação do fato".
E é ainda na contemplação das maravilhas da Terra, da natureza que preside ao engrandecimento espiritual do Homem, que este se encontra frente a frente com o Criador. É, pois, em homenagem a tal arrebatamento transcendente que Léon Denis dedica estas linhas, também inscritas n'O Grande Enigma: "Ó alma humana! torna a descer à Terra, recolhe-te; vira as páginas do grande livro aberto a todos os olhares; lê, nas camadas do solo em que pisas, a história da lenta formação dos mundos, a ação das forças imensas preparando o globo para a vida das sociedades. Depois, escuta. Escuta as harmonias da Natureza, os ruídos misteriosos das florestas, os ecos dos montes e dos vales, o hino que a torrente murmura no silêncio da noite. Escuta a grande voz do mar! Por toda parte retine o cântico dos seres e das coisas, a vida ruidosa, o queixume das Almas que sofrem ainda, qual se permanecessem aqui, e fazem esforços para se libertar da ganga material que as estreita".

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