Formação das coisas

Francisco Muniz

(Extraído da edição 17 - Ano 2 (1999) - da revista Visão Espírita.)

Allan Kardec, na questão 7 de O Livro dos Espíritos, especula: "Poder-se-ia descobrir a causa primária da formação das coisas nas propriedades íntimas da matéria?" Os Espíritos Superiores respondem com outra pergunta: "Mas então qual seira a causa dessas propriedades? É sempre necessária uma causa primeira", dizem, levando-nos sempre ao encontro de Deus, criador de tudo que existe. É então que o Codificador pondera: "Atribuir a formação primária das coisas às propriedades íntimas da matéria seria tomar o efeito pela causa, pois as mesmas propriedades são um efeito que deve ter uma causa". Mais adiante, na questão 8, Kardec interroga a equipe do Espírito de Verdade sobre a opinião que atribui a formação primária a uma fortuita combinação da matéria, ou por outra, ao acaso. "Outro absurdo!", respondem os Espíritos Superiores, questionando, por sua vez, "qual a criatura sensata que iria considerar o acaso com o um ser inteligente? E depois, que é o acaso? Nada!"
Ora, sabendo-se que Deus existe de todo o sempre e que é a fonte de onde tudo se origina, é insensato e falsa ciência especular sobre outras causas que expliquem a existência física. Num de seus números publicados em 1998, a revista Ciência Hoje, editada pela Sociedade Brasileira para o progresso da Ciência (SBPC), tratava num artigo sobre o surgimento da vida na Terra e dizia que a reunião de condições favoráveis permitiu o aparecimento da vida no planeta. Parava por aí. O autor do artigo, um cientista identificado com as correntes de pensamento que não admitem a causalidade espiritual, no máximo especulou que aquelas condições favoráveis foram reunidas por pura sorte. Eis aí, então, uma nova definição para Deus: "pura sorte". Mas leiamos, mais uma vez, as palavras do Codificador no comentário à questão 8: "A harmonia que rege o mecanismo do universo revela combinações e desígnios determinados e, por isso mesmo, um poder inteligente. Atribuir ao acaso a formação primária seria insensatez, pois o acaso é cego e não pode produzir efeitos da inteligência. Um caso inteligente deixaria de ser acaso".
Caímos nesse erro ao querer reduzir tudo à condição material da existência, a qual o estudante do Espiritismo sabe ser transitória, ou ilusória, como dizem os filósofos orientais. De acordo com Léon Denis, um dos grandes pensadores da Doutrina Espírita, " o Universo vive e respira, animado por duas correntes poderosas: a absorção e a difusão". É assim que Deus promove a criação: "As vibrações de seu pensamento e de sua vontade, fontes primeiras de todas as forças cósmicas, movem o Universo e geram a vida". Assim, a matéria, diz Denis, é um modo, uma forma transitória da substância universal. "Ela escapa à análise e desaparece sob a objetiva dos microscópios, para se transmudar em radiações sutis. Não tem existência própria; as filosofias, que a tomam por base, repousam sobre uma aparência, uma espécie de ilusão". O próprio William Crookes, o grande metapsiquista dos primeiros tempos do Espiritismo, físico de renome mundial, já havia declarado que a matéria é "um modo do movimento" e foi a partir de suas investigações que mais tarde Roentgen chegou aos raios-X.
"Tudo se encadeia no Universo. Tudo é regulado pela lei do número, da medida, da harmonia", salienta Léon Denis, estabelecendo que "as manifestações mais elevadas de energia confinam com a inteligência". A energia, segundo Denis, "parece ser a substância única, universal. No estado compacto, ela reveste as aparências a que chamamos - matéria sólida, líquida, gasosa; sob um modo mais sutil, constitui os fenômenos de luz, calor, eletricidade, magnetismo, afinidade química. Estudando a ação da vontade, sobre os eflúvios e as irradiações, poderíamos, talvez, entrever o ponto, o vértice em que a força se torna inteligente, em que Lei se manifesta, em que o Pensamento se transforma em vida".

Comentários

  1. Deus, espírito e matéria. Mal conseguimos delimitar as propriedades da matéria, grosso modo uma energia condensada. A depender de sua condensação temos aquilo que os nossos seis sentidos podem detectar e um número muito maior de coisas que não podemos. Se muitas são as casas de nosso Pai, muitas são as vestimentas com as quais nos manifestamos e o seu respectivo ambiente. O perispírito não deixa de ser matéria, mais sutil, mas ainda assim é matéria. Não escrevo aqui nada de novo. Mas muita coisa nova há de vir a ser descoberta (já existe desde o início dos tempos, pois as leis divinas - inclusas as matemáticas, físicas e químicas são imutáveis e eternas). E numa velocidade cada vez maior, espero. Hoje assisti a um documentário sobre as tempestades eletromagnéticas. É incrível como cientistas podem entender algo tão complexo e ignorar algo tão simples como a existência do espírito e de Deus.

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