Natal com Jesus. Qual Jesus?

Francisco Muniz


Soou estranho esse título? Há mais de um Jesus? A julgar pelo modo como o Natal é comemorado atualmente, poderíamos dizer que sim, há outro Jesus diferente daquele apregoado pelos evangelhos de Mateus, Marcos, Lucas e João, um Jesus que enche os olhos e parece estar distante dos corações. Há um Jesus que se confunde nas luzes e vitrines coloridas das lojas, um Jesus vendido a prestações e a peso de muito ouro. E há o Jesus submerso nas consciências, lutando por se fazer presente numa festa que se faz em nome dele e da qual ele raramente participa, pois não é sequer convidado.
E no entanto Ele está constantemente convidando os homens de boa vontade para uma festa inigualavelmente melhor. Uma festa sem troca de presentinhos, mas de incessante doação; sem mesas fartas de apetitosas iguarias, mas plena de pães espirituais para as alma famintas e sedentas de afeto; sem enfeites em árvores artificiais, mas rica de significado para as mentes que se deixam esclarecer pelas luzes da Verdade. Uma festa, enfim, que não se faz apenas uma vez por ano, mas sempre, porque tal é o sentido do Natal: o nascimento e a vivência cotidiana do Cristo na vida de cada um de nós.
Há um Natal lá fora, mas nesse o Cristo não nasce, pois não há coração onde ele possa nascer e viver. O Cristo está afastado das relações comerciais onde prepondera o desejo do lucro e nega as necessidades dos carentes do pão material. Não há Jesus onde as consciências passam ao largo dos problemas sociais e dos dramas individuais vigentes tanto nos casebres miseráveis quanto nos palácios suntuosos. Só haverá Jesus onde a semente da cristandade, plantada há mais de dois mil anos, já germina, produzindo frutos de fraternidade e amorosa convivência entre todos, sejam ricos ou pobres, doentes ou sãos, felizes ou tristes.
"Estou por demais tocado de compaixão pelas vossas misérias, por vossa imensa fraqueza, para não estender mão segura aos infelizes que, vendo o Céus, teimam em cair no abismo do erro", diz-nos o Cristo, ou o Espírito de Verdade, no capítulo VI de O Evangelho Segundo o Espiritismo. É caso de nos fazer pensar, a nós, que nos dizemos espíritas e, por consequência, verdadeiros cristãos e ainda teimamos em observar tradições que de há muito já não deveriam fazer parte de nosso comportamento. Mas vemo-nos, anos após ano, ensinando a nossos filhos e netos a fantasia de um "Papai Noel" e, assim, ainda negando, como Pedro, o Cristo em nós...

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