Cidades do Evangelho (13)

Francisco Muniz

Como sabemos, a Doutrina Espírita teve sua gênese na França, espalhando-se depois por todo o mundo graças ao trabalho exemplar de Allan Kardec e seus colaboradores, simpatizantes do ideal cristão, do qual o Espiritismo é o prosseguimento natural. Essa colaboração na tarefa do Codificador, à semelhança do que o Espírito de Verdade comenta no Prefácio de O Evangelho Segundo o Espiritismo, afirmando que "os Espíritos do Senhor se espalham sobre todos os pontos do mundo", verificou-se também fora da França e do próprio continente europeu. Assim é que mensagens vindas da Argélia, então uma colônia francesa na África, bem como da Alemanha, da Polônia, da Suíça e da Bélgica constam das Instruções dos Espíritos que Kardec apresenta na terceira obra da Codificação, que em 2024 completa seus 160 anos de lançamento. Com a finalidade de continuarmos enriquecendo nossa cultura espírita, voltamos nossos olhos, agora, para as cidades que, pelas razões acima, têm alguma importância na disseminação dos postulados do Espiritismo, conforme a determinação do Cristo aos discípulos de todos os tempos: "Ide e pregai!"

13. Poitiers



"O Espiritismo é de ordem divina, pois repousa sobre as próprias leis da natureza." Esta ponderação do Espírito Fénelon, acrecentando que "tudo o que é de ordem divina tem um objetivo elevado e útil", foi transmitida na cidade Poitiers no ano de 1861 e colocada por Allan Kardec nas Instruções do Espíritos do Cap. I de O Evangelho Segundo o Espiritismo ("Não vim destruir a Lei"), nas considerações a respeito da "Nova era". 

Sobre essa cidade, localizada no centro-oeste da França, do ponto de vista histórico e religioso há um fato de subida importância: foi lá que se deu a prisão de Joana D'Arc, a virgem de Orleans, traída por seus compatriotas franceses e entregue nas mãos impiedosas dos inquisidores que a fizeram queimar na fogueira pelo "pecado" de, médium que era, ver e conversar com seus mentores espirituais.

Na revista Espírita de 1864, mês de fevereiro, o Codificador cita a seguinte notícia publicada pelo
Journal de la Vienne de 21 de janeiro daquele ano e replicada por outros veículos de imprensa, dando conta de uma série de fenômenos inexplicáveis em Poitiers:

“Há cinco ou seis dias, na cidade de Poitiers, se passa um fato de tal modo extraordinário, que se tornou tema de conversas e dos mais estranhos comentários. Todas as noites, a partir das seis horas, ruídos singulares são ouvidos numa casa da Rue Neuve-Saint-Paul, habitada pela senhorita de O..., irmã do Sr. Conde de O... Segundo nos informaram, estes ruídos fazem o efeito de disparos de artilharia. Violentos golpes parecem ser dados nas portas e nos postigos. A princípio pensaram que fossem causados por brincadeiras de garotos e de vizinhos mal-intencionados. Foi organizada uma vigilância das mais ativas. Ante a queixa da senhorita de O..., a polícia tomou as mais minuciosas medidas. Agentes foram postos no interior e no exterior da casa. Nada obstante, produziram-se as explosões e sabemos, de boa fonte, que o Sr. M..., brigadeiro, durante a penúltima noite, foi tomado por uma tal comoção da qual ainda hoje não se dá conta.

“Nossa cidade inteira se preocupa com esse inexplicável mistério. Até o presente os inquéritos feitos pela polícia não conduziram a nenhum resultado. Cada um procura a chave do enigma. Algumas pessoas iniciadas no estudo do Espiritismo pretendem que Espíritos batedores são os autores dessas manifestações, às quais não seria estranho um famoso médium, que no entanto não mora no bairro. Outros lembram que outrora existia um cemitério na Rua Neuve-Saint-Paul, e é desnecessário dizer a que conjecturas se entregam a esse respeito.

“De todas essas explicações não sabemos qual é a mais razoável. Resta que a opinião está muito abalada com o caso, e ontem à noite considerável multidão se havia reunido sob as janelas da casa de O..., pelo que a autoridade teve que requerer um piquete do 10º regimento de caçadores, para evacuar a rua. No momento em que escrevemos, a polícia e a guarda ocupam a casa.”

Kardec, então, com sua habitual prudência e seriedade, fez os seguintes comentários: 

"O relato desses fatos nos foi enviado por vários corresponden­tes particulares. Posto nada tenham de mais estranho que os fatos constatados de manifestações ocorridas em diversas épocas e estejam nos limites do possível, convém suspender o julgamento até mais ampla constatação, não do fato, mas da causa, pois é necessário guardar-se de levar à conta dos Espíritos tudo aquilo que se não compreende. Também é preciso desconfiar das manobras dos inimigos do Espiritismo, e das armadilhas que podem lançar para tentar levá-lo ao ridículo pela grande credulidade de seus adeptos.

"Vemos com satisfação que os espíritas de Poitiers, nisto seguindo os conselhos contidos no Livro dos médiuns e as advertências que fizemos na Revista, até segunda ordem se mantêm numa prudente reserva. Se for uma manifestação, ela será provada pela total ausência de causa material; se for uma palhaçada, os autores, sem querer, terão contribuído, como já o fizeram tantas vezes, para despertar a atenção dos indiferentes e provocar o estudo do Espiritismo. Quando fatos análogos se multiplicarem por todos os lados, como é anunciado, e quando inutilmente procurarem a causa neste mundo, terão que convir que está no outro. Em todo caso, os espíritas provam sua sabedoria e sua moderação. É a melhor resposta a dar aos adversários."

Comentários

Postar um comentário

Abra sua alma!