Espíritos do Evangelho (35)

As "Instruções dos Espíritos" com que Allan Kardec encerrou alguns dos 28 capítulos de O Evangelho Segundo o Espiritismo são todas assinadas e seus autores podem ser facilmente identificados, porquanto são personalidades da cultura francesa, alguns, enquanto outros têm seu nome ligado à história do Cristianismo, tendo sido ou apóstolos ou discípulos, seguidores do Mestre Jesus. Uma parte deles, porém, preferiu resguardar-se no anonimato, utilizando codinomes que em geral não permitem devassar sua identidade, o que é perfeitamente compreensível. Afinal, o próprio Kardec, nascido Hippolyte Léon Denizard Rivail, não houve por bem ocultar seu verdadeiro nome, famoso na França do séc. XIX, em proveito da Doutrina dos Espíritos? Neste despretensioso trabalho tentamos lançar luzes novas sobre esses inolvidáveis colaboradores da Codificação, numa singela homenagem ao muito que fizeram em prol de nosso esclarecimento. Para tanto, fomos buscar informações disponíveis na Internet, em sites como o da Wikipedia e o da Federação Espírita Brasileira (FEB), dentre outros. Com isso, pensamos, é possível enriquecermos um pouco mais nossa cultura espírita. 

35. Irmã Rosália (Paris, 1860)

Irmã Rosália foi uma figura importante de Paris no séc. XIX, amada e venerada por todo o povo humilde e pelos miseráveis do bairro Mouffetard. Jean Marie Rendu nasceu em 9 de setembro de 1786, em Confort (região de Gex, nos montes Urais), de uma família de cultivadores. Ela era a mais velha de quatro filhas e se viu rapidamente na obrigação de ajudar sua mãe quando seu pai desencarnou em 1796.

Com a Revolução instalada, a casa dos Rendu tornou-se o refúgio de um bispo e de padres refratários. Nesse clima religioso forjou-se a alma da pequena menina. Sua mãe a confia às Ursulinas de Gex. É no hospital dessa cidade que Jean Marie descobre as Irmãs (ou Filhas) da Caridade de São Vicente de Paulo, assim como as misérias humanas. Ela será marcada, por toda sua vida, por esta experiência. Desde então, ela aguardou ter a idade exigida para fazer sua entrada na ordem que tanto a seduziu. Ela chega, em 25 de maio de 1802, na Casa-Mãe das Filhas da Caridade, na rua do Vieux Colombier, em Paris, para fazer seu noviciato.

Foi enviada ao bairro Mouffetard, à época o mais miserável da capital francesa, para fazer seu aprendizado. Foi lá, em 1807, que pronunciou seus votos definitivos. Até sua morte, ela seria o apóstolo e a providência dessa comunidade.

Em 1815, tornou-se Superiora da Casa de Beneficência da rua da Espada de Madeira. Todas as qualidades de devotamento, de autoridade natural, de humildade e de compaixão, e sua capacidade de organização revelam-se nesse período. “Seus pobres”, como ela os chama, são muito numerosos nesta época atormentada. As ondas de um liberalismo econômico triunfante acentuam a miséria dos abandonados. Sua obra é imensa, sua notoriedade ganha rapidamente a capital e as cidades do interior. Ela envia suas irmãs a todos os recantos da paróquia Saint-Médard para levar alimentos, vestimentas, cuidados e palavras reconfortantes. Ela abre um dispensário, uma farmácia, uma escola, um orfanato, uma creche. Logo, toda uma rede de obras de caridade é estabelecida para combater a pobreza.

Irmã Rosália estende suas relações sociais mundanas para conseguir o dinheiro necessário. As “Damas da Caridade” a ajudam nas visitas domiciliares.

Não faltaram provas de seus testemunhos ao longo de sua vida. Citaremos os mais representativos: revoluções em 1830 e 1848; levantes populares parciais em 1832 e 1834; a cólera os atinge por dois anos, em 1832 e 1848.

Podia-se ver Irmã Rosália nas barricadas para cuidar dos feridos, consolar os moribundos, pedir silêncio às armas, enfrentando o tiroteio.

No meio dos combates, quando pediam que ela se protegesse, responde: “Vocês acreditam que tenho vontade de viver quando massacram meus filhos?”

Ela salva os oficiais perseguidos pela multidão e esconde os rebeldes procurados pelas forças da ordem. Recebeu a Cruz da Legião de Honra, conferida por Napoleão III.

Em 7 de fevereiro de 1856, consumida pela doença e por uma vida sem repouso, ela morre em sua casa, na rua l’Epée-de-Bois. O dia de suas exéquias foi feriado em todo o bairro. Todos, pobres e ricos, compartilhavam a mesma emoção.

Seu processo de beatificação foi aberto em 1953 e concluído em 9 de novembro de 2003.


(Fonte: seir.org.br)

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