Paisagem do sofrimento no Centro Espírita

Francisco Muniz


Assim registra Manoel Philomeno de Miranda, em linhas poéticas, suas observações acerca da Sociedade Espírita em cujas instalações desenvolveria atividades de defesa ante os ataques de legiões trevosas, conforme explicita o segundo capítulo de seu livro Perturbações Espirituais (psicografia de Divaldo Franco): “A paisagem do sofrimento era visível, porque alguns se apresentavam ansiosos e expectantes, outros algo hebetados e outros indiferentes, qual ocorre em qualquer nosocômio terrestre”. Para esse público de assistidos, as equipes de atendentes fraternos da Casa se punham a postos.

Ali, Philomeno e seus companheiros entram em contato com Elvídio, um dos fundadores e mentor da Instituição, cujo relato sobre a história dessa Sociedade nos leva a profundas reflexões sobre o o que são um Centro Espírita e seus trabalhadores. Lembram que nossa Irmã Bernadete sempre diz que a maioria de nós, senão todos, nos comprometemos em atuar ao seu lado na obra que tomou o nome de Centro Espírita Deus, Luz e Verdade, sob a condução firme do mentor Irmão Jerônimo? No caso dos tutelados de Elvídio, tratava-se de “um antigo grupo de cristãos que se haviam extraviado em séculos passados”. Por analogia, podemos inferir que também nós, auxiliares de Jerônimo, em algum momento de nossa trajetória evolutiva traímos nossa fidelidade ao Cristo e ao Evangelho e agora procuramos nos corrigir dedicando-nos ao Consolador prometido.

Vale salientar que essa condição não é exclusiva dos trabalhadores do Centro, mas comum a quase todos os que lhe buscam os benefícios, respondendo então pela paisagem de sofrimento descrita pelo Autor espiritual. Assim, benditos são os que de boa vontade se sacrificam pelo bem estar coletivo, esquecendo as próprias dores, porque suas horas de trabalho serão contadas ao cêntuplo, posto que tiveram por móvel unicamente a caridade – é desse modo que nos fala O Evangelho Segundo o Espiritismo.

O Centro Espírita, como célula da grande Seara de Jesus, é o microcosmo da realidade do mundo, onde há muito trabalho a se fazer embora sejam poucos os trabalhadores sinceros e dedicados. O cuidado de Irmão Jerônimo compreende essa dificuldade e a cada ano ele nos exorta ao aprimoramento, principalmente moral e ético, porquanto no futuro a Casa será cada vez mais procurada pela multidão de necessitados. Por essa razão, conviremos que um Instituição Espírita nunca será realmente grande, por maiores sejam suas instalações, a não ser que se supere na prestação dos serviços compatíveis com suas finalidades.

A tal respeito, consideraremos também que cada trabalhador será aproveitado em tarefas para as quais ele se candidatou, mesmo sem saber, isto é, sem disso estar consciente, uma vez que a decisão foi tomada ainda no Plano Espiritual, quando lhe foi proposta a bênção da reencarnação na Terra. Ninguém ficará “desempregado”, pois. Observe-se ainda a peculiaridade de que os principais assistidos numa Casa Espírita são os Espíritos desencarnados, estando entre eles também o maior número de operários do Bem, os quais cooperam com os encarnados esperando a devida reciprocidade.

Não faz muito tempo, soubemos que numa das reuniões mediúnicas presidida por Irmão Jerônimo os médiuns comentavam a lição evangélica sobre “a ingratidão dos filhos e os laços de família”. Quando Irmã Bernadete iniciou a abertura das comunicações, o Mentor tomou a palavra e, saudando a equipe, argumentou que os médiuns só se referiram ao problema dos filhos em relação aos pais, e vice-versa. Mas, disse, todos deveriam se colocar no lugar dos filhos ingratos na relação com os dirigentes espirituais. Não é para se refletir com mais profundidade acerca de nossa participação na Casa Espírita e como disseminadores da proposta libertadora do Espiritismo?

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