Uma lição aos namorados

Francisco Muniz


Há alguns anos, conheci o Sr. Geraldo Leite em Salvador, por inttermédio de companheiros do Centro Espírita Deus, Luz e Verdade, especialmente sua filha, Graça. mas somente quando soube, depois, que ele havia sido reitor da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS) é que minha memória voltou no tempo e me recordei de um episódio - no qual o educador Geraldo Leite teve participação preponderante - que não teria a mínima importância, e cairia completamente no esquecimento, se, ao comentar a descoberta com a esposa, ela não se lembrasse de um detalhe singular (as mulheres, como se sabe, jamais esquecem!).
Era início do ano 1978, possivelmente o mês de março, e eu, pouco mais que um adolescente, houvera sido informado de que seria pai. A namorada, com quem me casaria em maio daquele ano, meio apressadamente, engravidara. Vivíamos, contudo, em cidades diferentes - ela, em Feira de Santana, e eu, na Capital - e só nos encontrávamos nos fins de semana. Assim, após a reevelação da gravidez, minha felicidade me fez comprar um par de alianças e improvisar uma cerimônia de noivado.
Era um sábado, portanto, e Beatriz, a namorada, fora me esperar na estação rodoviária. Talvez por sugestão dela, buscamos justamente o ambiente bucólico da UEFS para formalizar em definitivo nossa união. Sentam, pois, num dos muitos bancos sob as árvores e, como os casais apaixonados que se reencontram, trocamos afetos, mais intensos em razão da importância do momento.
Pensávamos estar relativamente a salvo das interferências alheias, uma vez que os poucos estudantes - àquela época - passavam à distância. Somente quando um funcionário nos abordou, pedindo que o seguíssemos à sala da Reitoria, é que percebemos estar sendo vigiados. Já um universitário na Capital, eu estranhei que o próprio reitor, o qual reputava um servidor infenso às questiúnculas do ambiente da Universidade, por ter responsabilidades das mais graves sobre os ombros, nos chamasse para um prosaico puxão de orelhas. Mas, tanto a curiosidade quanto o respeito formado pela educação doméstica falaram mais alto e simplesmente ouvimos a peroração do Sr. Reitor, que em seguida nos dispensou e fomos embora do campus, Beatriz e eu.
Naturalmente, com tantos anos passados, já não me lembro das palavras ouvidas naquela sala, embora não seja difícil imaginá-las. Em verdade, quem nos chamou ali - hoje vejo - não foi extamente o reitor da UEFS, mas o educador comprometido com seu ideal e atento a suas funções. E o que ouvimos foram exortações acerca da impropriedade da escolha do ambiente escolar, qual o da Universidade, para encontros amorosos, mesmo um tanto inocentes como o daqueles dois adolescentes que faziam planos para a inauguração de uma família...

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